Ouço falar de Jillian Tamaki há algum tempo. Ontem, por acaso, chapado e buscando algo para ler, acabei lendo algo dela. Li SUPERMUTANT MAGIC ACADEMY – que eu nem lembrava que era dela, diga-se -, e… Uau. Fui fisgado na hora; abduzido, até.
A versão que eu tenho de SMMA é, na verdade, uma edição do Free Comic Book Day, evento norte-americano onde – salvo engano, é no Dia do Quadrinho – várias editoras lançam um gibi gratuito, para deleite dos fãs – e em busca de novos fã$. Normalmente essas edições contam com histórias curtas ou trechos de obras/personagens já consolidadas, ou alguma prévia de material que está para sair. No meu caso, pensei que ia ler o encadernado, mas era essa versão do FCBD, adquirida no mercado informal, daí a confusão.
Era importante destacar isso, porque eu não sabia nada sobre SUMERMUTANT MAGIC ACADEMY. Eu imaginava uma graphic novel indie com mutantes e aventuras. Em vez disso, me deparo com quase todas as páginas na mesma disposição de seis quadros, com adolescentes estudantes mutantes sem nomes – pelo menos nessa edição -, e um timing de comédia excelente, puxando muito pro sarcasmo e pro absurdo, com um toque aqui e ali de drama. Depois de uma rápida pesquisa, descobri que SMMA era publicado online, e que a versão encadernada compila toda a publicação, mais algumas páginas inéditas.
As páginas que li não formavam uma sequência, mas mostraram um universo bem construído. Pelo que pude entender, existe uma escola meio Westchester, meio Hogwarts, onde estudam crianças normais e crianças mutantes, que têm cabeça de dinossauro, cabeça de golfinho, fazem metamorfose etc. Por não saber se há uma trama interna no encadernado, não posso afirmar, a partir dessas páginas, que elas não têm um grande perigo a enfrentar, um mistério a resolver ou um inimigo a derrotar, como acontece nessas outras escolas. O que me fisgou foi, justamente, a normalidade de todas elas. Aqui, contrário aos X-Men, onde as mutações servirão de pano de fundo para analogias com o preconceito racial, as mutações serão usadas como metáfora da adolescência.
Rola, também, uma quebra dos clichês: aqui, a patricinha é pessimista e fatalista e o esportista lê Joyce, tranquilamente, sentado à sombra.
O humor é na mosca e explora bem os absurdos de se estar numa escola mutante com o absurdo de ser adolescente; a página ao lado, com o menino-golfinho ouvindo tudo que falam sobre ele, e derramando uma única lágrima, é certeira. Me peguei rindo – e me identificando – várias vezes, não só com essa, mas com quase todas as outras páginas (e já saí mostrando para amigos e amigas). E o traço de Jillian é uma delícia! Nessas 15 páginas ela foi do tom cartum tipo Kate Beaton, com coisas meio rabiscadas, a contornos grossos com pincel, revelando uma forte influência do mangá, especialmente nas páginas que ela busca passar melancolia, usando um nanquim diluído.Como disse: fisgado, abduzido.
Se antes Jillian Tamaki estava no meu radar, ela agora está, sem dúvidas, na minha mira e na minha lista de próximas leituras!
Abaixo, algumas das páginas de que mais gostei: